terça-feira, 1 de julho de 2014

A experiência e a pratica da criação coletiva

Mariel de Souza Ourives

“A experiência artística, o fazer artístico, o trabalho com materiais da  Arte, é fundamental, para desenvolver as capacidades de produção – apreciação que constitui a experiência significativa em qualquer area.”                                                                                             (John Dewey).

O Coletivo à Deriva ressignifica a cidade nos lugares por onde atua. Em uma heterogeneidade de ações promovem um hibridismo de criações coletivas. Ao pensar nessa pratica de experiência coletiva, mergulhamos no processo do fazer artístico que tem  início na ideia de  construção e desconstrução, de significados e  ressignificação, de contaminação, de multiplicidade, de interatividade, de efemeridade, de territorialização / desterritorialização: que gradativamente   imerge do macro  de ideias,  para se afunilar na expressão inusitada de uma experiência coletiva. A intervenção urbana organizada pelo Coletivo à Deriva, fundado pelo Grupo de Pesquisas e Artes Híbridas do ECCO (Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea) no Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso. Sob a orientação da professora Dra. Maria Thereza Azevedo, o Coletivo à Deriva conta com a participação de artistas e não artistas de múltiplas áreas em torno de um objeto em comum: a cidade.
Conduzir um processo criativo a cada nova ação no coletivo demanda grande experiência de quem o lidera. O método do processo criativo surge em primeira instancia, estimulado pela fala espontânea dos componentes presentes, que são guiados através de teorizações específicas e reflexões. Em vários momentos de explanação vão surgindo “palavras chaves” compondo uma ideia e criação coletiva. A proposta coletiva a intervenção urbana é um tipo de manifestação artística, geralmente realizada em áreas centrais de grandes cidades. Consiste em uma interação com um objeto artístico previamente existente (um monumento, por exemplo) ou com um espaço público, visando colocar em questão as percepções acerca do objeto artístico. São trabalhos notadamente voltados para uma experiência estética que procura produzir novas maneiras de perceber o cenário urbano e criar relações afetivas com a cidade que não a da objetividade funcional que aplaca o dia-a-dia. A intervenção performática tem a intenção de sensibilizar o olhar, modificar o significado ou as expectativas do senso comum, quanto ao objeto.

William Mitchell aponta que a mobilização do público em torno de um projeto de interesse da comunidade é tão importante quanto o resultado por ele desenvolvido, uma vez que problematiza o cidadão-participante em relação à sua realidade cotidiana. Ao ver seu ‘produto artístico’ inserido no circuito urbano e fruído por inúmeras pessoas, o artista/público é levado a refletir sobre as formas de circulação e consumo da arte contemporânea a partir dos mecanismos utilizados pela publicidade e comunicação de massa (Mitchell, 1984: 153).

O trabalho performático, a Revitalização Simbólica do Morro da Luz”, reuniram práticas poéticas com  grupos de pessoas  que se encontram e se aproximam, e cujas reações que emanam deste encontro, sejam estas de ordem individual-psicológica ou coletiva-social,  que são documentadas de forma poética, notadamente em vídeo, resultantes de interações urbanas e humanas.
A cidade foi o foco do nosso trabalho; todos nós saímos das aulas estimulados a “olhar novamente” os espaços por onde passávamos, a fim de percebemos, a movimentação das pessoas, a relação que as mesmas tem com o espaço urbano, para depois socializarmos as nossas experiências. Foram vários olhares e propostas defendidas pelos nossos colegas, dentre elas surgiu uma que foi aos poucos convencendo a todos de sua importância. Finalmente a escolha do local foi feita, o Parque Morro da Luz, um dos fortes motivos da escolha foi pensar que este local, com um nome tão iluminado, localizado no centro da cidade esta  simplesmente esquecido e abandonado. Focamos em ouvir e conhecer as histórias relacionadas a este local, sua importância para a sociedade Cuiabana. Para isso nos “embrenhamos” literalmente no Parque Morro da Luz. Esta experiência do conhecer o locar foi de suma importância, pois sentimos de perto a energia que emanava daquele lugar. Uma espécie de beleza atrelada ao abandono e descaso, conforme as fotos que tirei durante a sondagem do espaço, que foram postadas aqui.
Algumas paisagens do morro: fotos tiradas por Mariel.









A experiência desse trabalho teve como foco a petica de “iluminar” este rico patrimônio localizado no centro da cidade. Lançar sobre ele um despertar de um novo olhar das pessoas que constantemente estão próximas, ou que tem uma relação saudosa deste lugar que um dia foi um local harmonioso para passeios em família.
Entre estudos e diálogos foram surgindo ideias que nortearam a ação performática. Criar um marco de revitalização, através da poesia e do lúdico, unindo personagens, moradores da cidade que comungavam do mesmo desejo de chamar a atenção das pessoas para aquele local.
Um dos viés de extrema importância e relevância foram as mídias, o Facebook, a criação de um blog, que proporcionou a mobilização da ideia, convidando e compartilhando o momento ápice da ação. Assim percebemos quantas pessoas comungavam da mesma ansiedade e preocupação, artistas, amigos, pessoas que recebiam o convite, demonstravam satisfação pela ação que estava sendo construída.
Outro ponto pensado da ação performática foi equiparmos de “luz”, luzes que  efemeramente se acenderam num exato momento, criando uma atmosfera reflexiva.


 A ideia do corpo situacionista como um objeto que se redefine por meio da experiência citadina,  podemos observar que o espaço vazio da falta é o que orienta suas ações e desejos de reinvenção do urbano. Nesse sentido, quanto maior forem os problemas existentes na cidade, maior será o empenho criativo do corpo em transpô-los.

Quanto menos segura se torna a cidade, tanto mais necessário para se viver nela – assim se pensava – esse é o conhecimento. Na verdade, a concorrência exacerbada leva o indivíduo a declarar imperiosamente seus interesses.
(BENJAMIN, 1989: 37).

 A execução da ação performática no Parque Antônio Pires de Campos “Morro da Luz”, resultou em uma mobilização coletiva, aguçando os olhares, posturas e condutas, refletindo novas atitudes. Esta intervenção performática cumpriu o seu papel, conseguindo mobilizar a imprensa, os internautas quanto a necessidade de uma atenção especial para esse patrimônio. O Morro da luz no dia 20 de maio de 2014 tornou-se o foco das atenções. A ação performática ficará nas nossas lembranças, e se manterá viva através da internet e redes sociais da comunidade coletiva Morro de Luz.


Referências

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo Brasiliense, 1994.

CALDEIRA, Solange Pimentel. O lamento da Imperatriz: a linguagem em trânsito e o espaço urbano em Pina Bausch. São Paulo: Annablume, 2009.

COCCHIARALE, Fernando. A (outra) Arte Contemporânea Brasileira. Intervenções urbanas micropolíticas. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuas EBA. UFRJ, 2004










GARCIA, Andréa Maciel. Corpo e cidade – ecos do situacionista e do Flâneur nas corpografias do presente.

MITCHELL, William. Corpo poético, uma cartografia do lugar. 1984.


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