sábado, 2 de agosto de 2014

Do trabalho colaborativo e em rede à intervenção poética-urbana




Valdir Brito de Oliveira Junior

As reflexões tratadas neste artigo são referentes às experiências vividas acerca da intervenção[1] poética-urbana e coletiva “Morro de Luz”, realizada no Parque Antônio Pires de Campos, popularmente conhecido como “Morro da Luz”[2], em Cuiabá, pelo Coletivo à Deriva[3], e o trabalho colaborativo e em rede.
A ideia da intervenção “Morro de Luz” surgiu como proposta da disciplina “Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas I: Conceitos, Diálogos e Horizontes” ministrada pela Prof.ª. Dra. Maria Thereza Azevedo no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Apesar da proposta inicial ter sido originada de uma disciplina de mestrado, o resultado final deve-se, também, pela colaboração de convidados que não fazem parte do programa de pós-graduação aqui referido anteriormente. O propósito era criar um roteiro em sala para divulgar, via web, para que outras pessoas pudessem participar e contribuir à sua maneira. Ou seja, “a ideia de colaboração é simples, nada mais que trabalhar conjuntamente em função de um objetivo” (MOREIRA; JARDIM; ZIVIANI, 2010, p. 05). E o objetivo era ocupar um espaço que deveria ser utilizado diariamente como parque e ponto turístico, mas por descaso do poder público, estava esquecido e abandonado, mesmo estando no centro da cidade.   
Essa proposta de colaboração pode parecer fruto da modernidade tecnológica, mas sua organização é percebida ao longo da história.

Moreira, Jardim e Ziviani (2010) afirmam que:

Embora os trabalhos colaborativos e em rede envolvam uma infinidade de pessoas nos dias de hoje, estas formas de organização social não são uma invenção contemporânea. Ao longo da história, muitos povos se associaram de forma colaborativa com vistas a vencerem dificuldades coletivas ou alcançarem algum objetivo comunitário (mutirões para construção de casas ou para realização de festas coletivas, por exemplo). No entanto, se antes estas idéias-forças eram colocadas em prática pontualmente, hoje elas se apresentam como alternativas no mundo contemporâneo para a ação coletiva no plano político, social e, o que mais nos interessa aqui, na dimensão cultural. (MOREIRA; JARDIM; ZIVIANI, 2010, p. 04)

O (nosso) processo colaborativo começou em reuniões de sala de aula, na interação entre discentes e docente, mas não demorou muito para tomar os primeiros traços de como seria a intervenção. E assim que foi delineada a trajetória e objetivos específicos (camisas pretas, horário e ponto de encontro, uso de lanternas), a ideia saiu de sala (para web) e deu espaço para outros colaboradores. Dessa forma as ideias saíram da turma de discentes da disciplina aqui já referida, ganhando novos adeptos fora do ambiente físico-acadêmico, agora no ambiente virtual, onde continuaram ocorrendo interações e sugestões. Entendemos então que “o processo é construído a partir das interações entre os colaboradores e está em permanente estado de evolução, sendo continuamente reprocessado e auto-organizado” (MOREIRA; JARDIM; ZIVIANI, 2010, p. 05).
Nesse novo ambiente virtual a interação pela web acontecia na famosa rede social Facebook, onde um evento[4] foi criado para divulgação, e em um blog[5], onde também eram compartilhadas informações a respeito do evento e informações sobre o Morro da Luz.  No Facebook ouve mais interação, e o evento chegou a marca de 4,4 mil (quatro mil e quatrocentos) usuários convidados. Esse alcance em divulgação de uma mensagem se dá pela possibilidade de interatividade entre os usuários. Essa interatividade na rede se dá “precisamente da convergência entre o social e o tecnológico” (LEMOS, 1997, p. 8).

Lévy (1999) já afirmava essa interatividade na comunicação através mundo virtual bem antes do Facebook existir:

A comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certo sentido, mais interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na mensagem, tanto a imagem da pessoa como a da situação, que são quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação (LÉVY, 1999, p. 81)

Com toda a interatividade possível dentro dessa rede social, a intervenção se torna mais fácil de ganhar novos adeptos ao movimento efêmero e novos conceitos também. Arantes (2010) afirma que “o crescente uso de formas operacionais de comunidades da rede (...) são importantes estratégias de democratização, de compartilhamento, de acesso e de troca de informações” (ARANTES, 2010, p. 04). 
A intervenção como tentativa de resgate de um local esquecido – e até temido pela falta de iluminação e segurança – não se prende apenas ao efêmero ato poético-urbano, como seu ativismo perpetua. Mesmo se não quiser ser ativista, ela o é. Esse ativismo é debatido, mesmo que sutilmente, na rede e se reflete na rua, na performance, seja em forma de poesia, de música, ou no simples ato de ocupar algo que já não era ocupado. É importante “perceber que, para além de serem vistos como meras ferramentas de troca de informações, estas novas formas operacionais e em rede vêm sendo vistas, também, como instrumentos importantes de mídia ativismo”. (ARANTES, 2010, p. 03).
Esse movimento então é originado em um grupo menor de pessoas, em um espaço limitado, e se desprende da arquitetura física e se permite na rede. Essa inserção no virtual permite colaborações de pessoas que não estavam presentes desde o início, reformulando e acrescentando ideias. Essas ideias ganham corpos e esses corpos ocupam o espaço, “Morro da Luz”. O “Morro de Luz” é um trabalho colaborativo – e em rede – que ganha forças ativistas na sua sutil maneira de ocupar e interagir.

REFERÊNCIAS

ARANTES, Priscilla. Impacto dos Weblogs: Geopolítica, Compartilhamento e Filosofia Open Source. In: NP 08 – Tecnologias da Informação e da Comunicação do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. 2005.

CALDEIRA, Solange Pimentel. O lamento da Imperatriz: A Linguagem em Trânsito e o Espaço Urbano em Pina Bausch. São Paulo: Annablume, 2009.

Intervenção Urbana. Disponível em: <http://www.intervencaourbana.org/>. Acesso em: 20  Jun. 2014.

LEMOS, André. Ciber-Socialidade: Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Disponível em: < http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/cibersoc.html>. Acesso em: 20 Jun. 2014.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo, Ed. 34, 1999.

MOREIRA, Fayga; JARDIM, Gustavo; ZIVIANI, Paula. Trabalho Colaborativo e em Rede com a Cultura. Gestão Cultural: Competência e Desafios. No Prelo.




[1] De acordo com o dicionário online Priberam < http://www.priberam.pt/>: ator de intervir = tomar parte em; participar; interferir; interceder. No caso de intervenções urbanas o termo utilizado para designar as intervenções realizadas em espaços públicos. 
[2] Para conhecer mais sobre o Morro da Luz: < http://www.cuiaba.mt.gov.br/upload/arquivo/morro_da_luz.pdf>
[3] O Coletivo à Deriva surgiu em 2009, e está ligado ao Grupo de Pesquisas "Artes Híbridas: intersecções, contaminações e transversalidades”. Desde o seu surgimento atua em intervenções e performances poética-urbanas na capital cuiabana. Para conhecer mais: Facebook Oficial: < https://www.facebook.com/pages/Coletivo-%C3%A0-Deriva/255646701141126>; Blog: < http://coletivoaderivacuiaba.blogspot.com.br/>. 
[4] Link do evento no Facebook: < https://www.facebook.com/events/759647364060038/>.
[5] Link do Blog Morro de Luz: < http://morrodeluzcuiaba.blogspot.com.br/>. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Morro da Luz - Território de Quem?


Por Elina Padilha Fernandes
ECCO – UFMT

            Durante o curso de Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea – UFMT, no qual realizei as disciplinas Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas I, III e IV, ministradas pela professora Drª Maria Thereza de Oliveira Azevedo, tive a oportunidade de participar do Coletivo à Deriva, que se liga ativamente ao grupo de pesquisa Artes Híbridas do ECCO, liderado pela profª Maria Thereza. Ao longo desse período participei de três intervenções urbanas ou melhor dizendo, de três práticas urbanas, já que esta última implica não apenas o intervir, mas ultrapassa “muros” e “barreiras”, vinculadas a aspectos políticos, sociais, econômicos e ambientais.
            Como proposta de intervenção neste módulo disciplinar, fomos chamados a subir o Morro da Luz, e iluminá-lo, com a intenção de tornar visível a real situação do Morro para a sociedade e para o poder público, pois este se encontra em total abandono, sendo ocupado por salteadores e consumidores de drogas, além de ser ponto de prostituição.
Durante o processo de ajustes para a intervenção vários pontos de discussão foram se formando: o objetivo da intervenção, a visibilidade da mesma (se necessário ou não), a participação da mídia e dos departamentos públicos do município, dos artistas convidados e da sociedade em geral. Havia por minha parte certa preocupação em relação à notoriedade da intervenção, mas como disse Maria Thereza Azevedo: “nenhuma ação fica sem uma reverberação, independentemente se ela foi notória ou não”.
Pesquisando sobre o Morro da Luz percebi que o seu valor histórico e patrimonial ultrapassa os aspectos políticos e econômicos, foi nesse morro o primeiro ponto de luz da cidade de Cuiabá, um marco histórico e social para o nosso município. Contudo, pouco acontece para que esse patrimônio seja um território de todos, mesmo sendo um ponto central da cidade, o Morro da Luz virou território de poucos, e, para a grande maioria configura apenas um ponto de referência localizador, desta maneira, ocorre a desterritorialização e as desapropriações de uma grande parcela da população.

O conceito de território
Dentro dessa temática, seria interessante a definição da palavra território, “de acordo com Haesbaert Costa, deriva do ‘latim territorium’ que é derivado de terra e que nos tratados de agrimensura apareceu com o significado de ‘pedaço de terra apropriada”. (SOUZA, PEDON, 2007, p.128).
Ainda de acordo com Souza e Pedon, a partir desta definição:

Lobato Corrêa corrobora dizendo que tem o significado de pertencimento – a terra pertence a alguém – não necessariamente como propriedade, mas devido ao caráter de apropriação, assim como a desterritorialização é entendida como perda do território apropriado e vivido em razão de diferentes processos derivados de contradições capazes de desfazerem o território (...).  (SOUZA, PEDON, 2007. Pág. 128).  

            Eu entendo que esses diferentes processos de desfazer do território se justapõem principalmente nas políticas social e econômica em nosso município; por décadas o Morro da Luz foi deixado em segundo plano na composição urbanística da cidade, como consequência de uma ocupação marginalizada que foi se constituindo ao longo do tempo. Uma pequena parcela da sociedade territorializou o Morro da Luz. Sobre este aspecto tem sido aplicado o debate do território, do lugar, da paisagem e do próprio espaço urbano.

Embora o termo território tenha sido mais caracterizado com as relações de poder e, desta forma atribui-se ao Estado-Nação, vários pesquisadores, inclusive geógrafos tem defendido a definição deste, a partir de outras variáveis importantes na produção dos territórios.  Haesbaert Costa sinaliza três vertentes de conceitos para território: 1) jurídico-política – definido por delimitações e controle de poder, especialmente o de caráter estatal; 2) a cultural(ista) – visto como produto da apropriação resultante do imaginário e/ou “identidade social sobre o espaço”; 3) a econômica – destacado pela desterritorialização como produto do confronto entre classes sociais e da “relação capital-trabalho”. O mesmo autor afirma que os mais comuns são posições múltiplas, compreendendo sempre mais de uma das vertentes (1997, p. 39-40). (SOUZA, PEDON, 2007. Pág. 129).

            Existe realmente uma relação múltipla de fatores que levaram a essa desterritorialização do Morro da Luz, apesar de sua grande importância histórica, percebemos que as relações sobre esse espaço-território nos dias atuais são de uma complexidade muito grande, e, devido a uma ocupação de uma minoria marginalizada,  a maior parte da população cuiabana priva-se dele, não apenas com uma privação física (geograficamente falando), entendo que há uma privação subjetiva, emotiva e poética, todo um  complexo  histórico, ambiental e social, está se perdendo, precisamente por que o Morro da Luz surge como um território de poucos e deixados por muitos.
Contudo, ainda sobre o conceito de território, dois grandes filósofos sociais contribuíram para a distinção de territórios e seus conceitos:

 Na verdade apesar de alguns autores restringirem a visão deleuze-guattariana de território a um nível meramente psicológico (como TOMLINSON, 1998. 10), podemos afirmar que ela é de tamanha amplitude que engloba todas estas versões de território. Trata-se na verdade de uma vasta mudança de escala: iniciando como território etológico ou animal passamos ao território psicológico ou subjetivo e daí ao território sociológico e ao território geográfico (que inclui a relação sociedade-natureza). (HAESBAERT e BRUCE, s\d, pág. 06).

            Deleuze e Guattari apesar de enfatizarem bem a territorialização como algo psicológico, não deixam de frisar a ideia de espaço-território físico na qual as relações sociais se estabelecem. Com esta realidade percebemos a necessidade de desenvolvimento de  políticas sociais que possibilitem a  reterritorialização do Morro da Luz, através de uma ocupação física por parte do poder público com ações sociais, econômicas e culturais, implementando uma mobilização para a ação coletiva de ocupação por parte da sociedade civil.

Minha experiência Corpo – Poética no Morro da Luz     

   
Figura 01 - Desbravando, finalmente, o Morro da Luz.
Foto: Bernadete Lara.
           
            Como mais uma experiência de intervenção urbana, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais um território até então proibido. Desde  criança o Morro da Luz fez parte do meu imaginário, nos idos da década de 90 quando esperava o meu pai terminar seu expediente que trabalhava na CEMAT – Centrais Elétricas Mato-grossenses, que fica no topo do morro, esse local era totalmente proibido, pois escondia os “perigos” de um lugar inacessível, meus pais sempre me proibiram de desbravá-lo, confesso que como qualquer criança sempre tive muita vontade, porém o medo era maior, com suas altas árvores e seus misteriosos espaços escuros e intocáveis, ficou por se realizar.
Enfim, apenas no dia 20 de maio de 2014 que consegui desbravar o tão misterioso parque, pra mim foi uma realização tão gratificante, que fiz com que o meu filho participasse desse momento, ele felizmente não precisará esperar décadas para conhecer um território que faz parte do seu espaço urbano, assim como as futuras gerações devem se permitir conhecer o Morro da Luz, as luzes que iluminaram o morro deveriam ser as mesmas para iluminar as mentes e os corações de todos que direta ou indiretamente são responsáveis por esse território.


Figura 02 - Iluminação com canhões de luz durante a intervenção.
Foto: Autor Desconhecido.

 Bibliografia
           

HAESBAERT, Glauco e BRUCE, Glauco. A desterritorialização na obra de Deleuze e Guattari. Departamento de Geografia Universidade Federal Fluminense. Disponível em <

SOUZA, Edevaldo Aparecido e PEDON, Nelson Rodrigo. Território e Identidade. Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Sessão Três Lagoas MS. Disponível em http://www.ceul.ufms.br/revista-geo/artigo6_EdevaldoS._e_NelsonP..pdf. Acesso em 23 jun 2014.









terça-feira, 1 de julho de 2014

A experiência e a pratica da criação coletiva

Mariel de Souza Ourives

“A experiência artística, o fazer artístico, o trabalho com materiais da  Arte, é fundamental, para desenvolver as capacidades de produção – apreciação que constitui a experiência significativa em qualquer area.”                                                                                             (John Dewey).

O Coletivo à Deriva ressignifica a cidade nos lugares por onde atua. Em uma heterogeneidade de ações promovem um hibridismo de criações coletivas. Ao pensar nessa pratica de experiência coletiva, mergulhamos no processo do fazer artístico que tem  início na ideia de  construção e desconstrução, de significados e  ressignificação, de contaminação, de multiplicidade, de interatividade, de efemeridade, de territorialização / desterritorialização: que gradativamente   imerge do macro  de ideias,  para se afunilar na expressão inusitada de uma experiência coletiva. A intervenção urbana organizada pelo Coletivo à Deriva, fundado pelo Grupo de Pesquisas e Artes Híbridas do ECCO (Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea) no Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso. Sob a orientação da professora Dra. Maria Thereza Azevedo, o Coletivo à Deriva conta com a participação de artistas e não artistas de múltiplas áreas em torno de um objeto em comum: a cidade.
Conduzir um processo criativo a cada nova ação no coletivo demanda grande experiência de quem o lidera. O método do processo criativo surge em primeira instancia, estimulado pela fala espontânea dos componentes presentes, que são guiados através de teorizações específicas e reflexões. Em vários momentos de explanação vão surgindo “palavras chaves” compondo uma ideia e criação coletiva. A proposta coletiva a intervenção urbana é um tipo de manifestação artística, geralmente realizada em áreas centrais de grandes cidades. Consiste em uma interação com um objeto artístico previamente existente (um monumento, por exemplo) ou com um espaço público, visando colocar em questão as percepções acerca do objeto artístico. São trabalhos notadamente voltados para uma experiência estética que procura produzir novas maneiras de perceber o cenário urbano e criar relações afetivas com a cidade que não a da objetividade funcional que aplaca o dia-a-dia. A intervenção performática tem a intenção de sensibilizar o olhar, modificar o significado ou as expectativas do senso comum, quanto ao objeto.

William Mitchell aponta que a mobilização do público em torno de um projeto de interesse da comunidade é tão importante quanto o resultado por ele desenvolvido, uma vez que problematiza o cidadão-participante em relação à sua realidade cotidiana. Ao ver seu ‘produto artístico’ inserido no circuito urbano e fruído por inúmeras pessoas, o artista/público é levado a refletir sobre as formas de circulação e consumo da arte contemporânea a partir dos mecanismos utilizados pela publicidade e comunicação de massa (Mitchell, 1984: 153).

O trabalho performático, a Revitalização Simbólica do Morro da Luz”, reuniram práticas poéticas com  grupos de pessoas  que se encontram e se aproximam, e cujas reações que emanam deste encontro, sejam estas de ordem individual-psicológica ou coletiva-social,  que são documentadas de forma poética, notadamente em vídeo, resultantes de interações urbanas e humanas.
A cidade foi o foco do nosso trabalho; todos nós saímos das aulas estimulados a “olhar novamente” os espaços por onde passávamos, a fim de percebemos, a movimentação das pessoas, a relação que as mesmas tem com o espaço urbano, para depois socializarmos as nossas experiências. Foram vários olhares e propostas defendidas pelos nossos colegas, dentre elas surgiu uma que foi aos poucos convencendo a todos de sua importância. Finalmente a escolha do local foi feita, o Parque Morro da Luz, um dos fortes motivos da escolha foi pensar que este local, com um nome tão iluminado, localizado no centro da cidade esta  simplesmente esquecido e abandonado. Focamos em ouvir e conhecer as histórias relacionadas a este local, sua importância para a sociedade Cuiabana. Para isso nos “embrenhamos” literalmente no Parque Morro da Luz. Esta experiência do conhecer o locar foi de suma importância, pois sentimos de perto a energia que emanava daquele lugar. Uma espécie de beleza atrelada ao abandono e descaso, conforme as fotos que tirei durante a sondagem do espaço, que foram postadas aqui.
Algumas paisagens do morro: fotos tiradas por Mariel.









A experiência desse trabalho teve como foco a petica de “iluminar” este rico patrimônio localizado no centro da cidade. Lançar sobre ele um despertar de um novo olhar das pessoas que constantemente estão próximas, ou que tem uma relação saudosa deste lugar que um dia foi um local harmonioso para passeios em família.
Entre estudos e diálogos foram surgindo ideias que nortearam a ação performática. Criar um marco de revitalização, através da poesia e do lúdico, unindo personagens, moradores da cidade que comungavam do mesmo desejo de chamar a atenção das pessoas para aquele local.
Um dos viés de extrema importância e relevância foram as mídias, o Facebook, a criação de um blog, que proporcionou a mobilização da ideia, convidando e compartilhando o momento ápice da ação. Assim percebemos quantas pessoas comungavam da mesma ansiedade e preocupação, artistas, amigos, pessoas que recebiam o convite, demonstravam satisfação pela ação que estava sendo construída.
Outro ponto pensado da ação performática foi equiparmos de “luz”, luzes que  efemeramente se acenderam num exato momento, criando uma atmosfera reflexiva.


 A ideia do corpo situacionista como um objeto que se redefine por meio da experiência citadina,  podemos observar que o espaço vazio da falta é o que orienta suas ações e desejos de reinvenção do urbano. Nesse sentido, quanto maior forem os problemas existentes na cidade, maior será o empenho criativo do corpo em transpô-los.

Quanto menos segura se torna a cidade, tanto mais necessário para se viver nela – assim se pensava – esse é o conhecimento. Na verdade, a concorrência exacerbada leva o indivíduo a declarar imperiosamente seus interesses.
(BENJAMIN, 1989: 37).

 A execução da ação performática no Parque Antônio Pires de Campos “Morro da Luz”, resultou em uma mobilização coletiva, aguçando os olhares, posturas e condutas, refletindo novas atitudes. Esta intervenção performática cumpriu o seu papel, conseguindo mobilizar a imprensa, os internautas quanto a necessidade de uma atenção especial para esse patrimônio. O Morro da luz no dia 20 de maio de 2014 tornou-se o foco das atenções. A ação performática ficará nas nossas lembranças, e se manterá viva através da internet e redes sociais da comunidade coletiva Morro de Luz.


Referências

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo Brasiliense, 1994.

CALDEIRA, Solange Pimentel. O lamento da Imperatriz: a linguagem em trânsito e o espaço urbano em Pina Bausch. São Paulo: Annablume, 2009.

COCCHIARALE, Fernando. A (outra) Arte Contemporânea Brasileira. Intervenções urbanas micropolíticas. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuas EBA. UFRJ, 2004










GARCIA, Andréa Maciel. Corpo e cidade – ecos do situacionista e do Flâneur nas corpografias do presente.

MITCHELL, William. Corpo poético, uma cartografia do lugar. 1984.


Sociopoética: por um Morro de Luz


Bernadete Florentina de Lara

“A intervenção urbana possui características tais como a interatividade, heterogeneidade, multiplicidade, hibridismo das formas e de linguagens.” (Cibercultura, cidade e singularidades Maria Thereza Azevedo)

Enquanto Cuiabá capital de Mato Grosso se preparava para receber turistas nos jogos da Copa do Mundo em 2014, o Parque Antônio Pires de Campos, mais conhecido como Morro da Luz, situado bem no Centro da cidade, continuava sem nenhuma visibilidade! É necessário sim, arrumar a casa para receber visitas, porem não só por isso, pois os donos da casa também gostam e é salutar um espaço arejado para viver. 

Nesse contexto, a disciplina “Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas”, com a participação de 20 mestrandos do ECCO – Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT, sob a
orientação da Profª Dra. Maria Thereza e em parceria com o Coletivo à Deriva, realizou uma
intervenção urbana para que de certa forma chamasse a atenção para o “Morro da Luz”, até então sem luz. O evento foi planejado para o dia 20 de maio de 2014, ao entardecer e nós participantes nos mobilizamos nas aulas da disciplina acima citada e pela “Mídia Ninja”.
Para o evento nos vestimos a maioria com roupas na cor escura, todos com lanternas e outros aparelhos luminosos. A concentração iniciou-se às 16 horas, próximo ao globo situado em uma das subidas do Morro. Com a presença do Coletivo à Deriva no local, percebeu-se a inquietação dos “ocupantes” mais assíduos do Parque, os que aproveitam das brechas do poder público para se apossar de vez desse território e deixar rastros de destruição no ambiente, matam a imaginação e privam de lazer parte da sociedade que gostaria de frequentar esse espaço. Por isso, é necessário que se promovam ações que vislumbrem a ocupação do lugar por outros membros da sociedade e, que agreguem valores positivos, digno de ser cartão postal na cidade. Um espaço com rica beleza, abrigando flora nativa exuberante, temperatura amena em relação ao centro da cidade, um território que certamente, no passado encheu os olhos de colonizadores. Não somente pelo ouro ali encontrado, denominado de Lavras do Sutil, acredito tembem que fosse um ponto estratégico, devido altitude e localização.

Imagens que flagrei antes do anoitecer: isso é que temos




Houve uma tentativa de limpar o ambiente naquele dia para o evento, porem o lixo ficou com mais evidencia, pois foi levado para o meio da Praça Zé Bolo Flor, onde seria o ponto alto de nossa performance.










“O Morro da Luz semiótico ostenta signos de abandono e perigo. Um território bem definido nas linhas do google /mapa, terra no medo, onde é preciso coragem.” (Mestrando Luis Segadas, 2014)



Enquanto a maioria da população se priva de frequentar esse território, devido ao medo, há os que se apoderam do lugar, pois sabem que lá ficam sem punição, é lugar seguro para eles. Em que momento, a fragilidade do poder público cedeu espaço à ocupação do Morro da Luz somente por pessoas que oferecem medo e insegurança?  
Na intenção de fazer algo de concreto para iluminar o Morro e chamar atenção do poder público, a sensibilizar-se com o problema social existente, uma intervenção do Coletivo à Deriva foi realizada. 
A seguir, uma descrição poética de uma mestranda participante, Terezinha do Nascimento Souza para ilustrar alguns registros fotográficos:

“Fotografamos e filmamos tudo, recitamos poesias conhecidas, criamos outras e as dissemos aos quatro cantos delimitados do cenário da praça de solo acolhedor. E no espaço celestial sem fim, tudo perpassou as árvores cúmplices que naquele momento captavam e guardavam novos segredos, juntando-os aos antigos, na sua imensa solidão noturna.” (Terezinha do Nascimento Souza)


Uma pequena exposição do que queremos ver e ter no Morro da Luz






Precisamos de ações afirmativas com pessoas bem intencionadas, frequentando esse espaço. Queremos Saraus para todas as idades sem distinção de gênero, raça, etnia, hierarquia econômica, social e cultural. Por uma sociopoetica salutar no Morro da Luz.



REFERÊNCIA

AZEVEDO, Maria Thereza. Cibercultura, Cidade e singularidade.  São Paulo, CONFIBERCOM, 2011. (http://confibercom.org/anais2011/pdf/237)

SOUZA, Terezinha do Nascimento. Intervenção urbana: Uma experiência vivida – Cuiabá 20 de maio de 2014-07-01

http://segadasdesenho.wordpress.com/2014/06/30/intervencao-no-parque-morro-da-luz-cuiaba/


http://pt.wikipedia.org/wiki/Mídia_Ninja